A ação principia no século XVI. O contexto europeu é renascentista. Redescobrem-se os textos dos sábios gregos antigos e recomeça-se a descoberta do mundo e da vida com base nas ideias de então. A par desta descoberta do passado, Portugal e Espanha apostam na descoberta do futuro, alargam fronteiras.
O matemático português segura numa das mãos a corda que liga à antiguidade clássica e na outra a que liga à descoberta de novas terras, povos e culturas. E dá um nó. Faz a união do passado com o futuro e a união da teoria com a prática.
Mas essa união não é pacífica…
Bengala dos Cegos – o descobrimento de Pedro Nunes estreou no dia 18 de novembro de 2006 no Teatro Académico de Gil Vicente e foi apresentado também, no mesmo teatro, nos dias 20 e 21 de dezembro à tarde e à noite. Em dezembro, nos dias 6, 7 e 8, o espetáculo foi apresentado em Aveiro, no Estaleiro Teatral.
O descobrimento de Pedro Nunes
Cosmógrafo-mor do reino, professor dos infantes D. Luís, D. Henrique e D. Duarte, as ideias criativas de Pedro Nunes relativamente às questões da navegação nem sempre terão sido bem recebidas por quem realmente tinha a ofício prático de navegar. Nas próprias palavras do matemático no seu Tratado em defensão da carta de marear: “E sou tão escrupuloso em misturar com regras vulgares desta arte [de navegar] termos e pontos de ciência, de que os pilotos tanto se riem (…)”.
Este hiato entre as propostas teóricas de Pedro Nunes para a navegação e os navegadores portugueses desta época de descobrimentos, e os comentários que originavam por parte destes últimos, seriam assunto de reflexão para o matemático quinhentista, como se depreende do seguinte comentário incluído na mesma obra: “Bem sei quão mal sofrem os pilotos que fale na Índia quem nunca foi nela, e pratique no mar quem nele não entrou (…)”.
Este conflito entre o avançar teórico, em que ideias inovadoras são lançadas a par de uma melhor compreensão do conhecimento trazido pela praxis, e a prática da navegação é uma das questões abordadas na Bengala dos Cegos. Na essência, são duas faces da mesma moeda – o ímpeto sem preço que faz avançar a humanidade.
Apesar deste “desfasamento” do teórico Pedro Nunes com a prática portuguesa da navegação, o matemático português foi referência obrigatória nas cátedras de matemática da Europa dos séculos XVI e XVII e entre aqueles que estudavam a astronomia e a arte da navegação. Com contactos e reconhecimento internacionais, este “matemático criativo”, como alguns hoje o consideram, e as suas ideias, viajaram e influenciaram a Europa renascentista da época. Foi uma outra forma de navegação, a navegação das ideias, via obras publicadas e via correspondência entre pares. E nesses séculos XVI e XVII, Pedro Nunes deu-se à descoberta pelos outros homens de ciência. E escreveu o seu nome na Lua.
Texto e encenação Mário Montenegro
Assistência de Encenação Alexandre Lemos
Discussão e Ideias Alexandre, Anabela Fernandes, José Nunes, Mário Montenegro, Nelson Rodrigues, Pedro Andrade, Pedro Pires Pinto, Raquel Guerrero, Rui Capitão e Rui Simão
Interpretação Anabela Fernandes, José Nunes, Pedro Pires Pinto, Mário Montenegro, Raquel Guerrero
Cenografia, Figurinos e Imagem Pedro Andrade
Desenho de Luz Rui Simão
Sonoplastia Rui Capitão
Vídeo Ricardo Trindade
Fotografia de Cena Francisca Moreira
Penteados Carlos Gago – Ilídio Design
Costura Fátima Lemos
Consultoria científica Carlota Simões
Pré-produção Nelson Rodrigues
Produção Executiva Alexandre Lemos
Apoio
Ministério da Cultura
Instituto das Artes
Teatro Académico de Gil Vicente
Reitoria da Universidade de Coimbra
MAFIA – Federação Cultural de Coimbra
INATEL – delegação de Coimbra
Departamento de Matemática da FCTUC
Ilídio Design – Cabeleireiros
Carlo Viscontti – Aveiro
Rádio Universidade de Coimbra
Agradecimentos
A.P.P.A.C.D.M., A.P.P.C. – N.R.C., Camaleão – Associação Cultural, Direção Regional de Educação do Centro, EFÉMERO – Companhia de Teatro de Aveiro, Fátima Lemos, Maria João Feio, república “Rosa Luxemburgo”, R. Simão, Sociedade Portuguesa de Matemática, Teatro Nacional de S. João