Conversa com encenador do NANO T | "O motor do conhecimento é a imaginação"
Share
Decorreu ao final da manhã de hoje uma conversa com os jornalistas para apresentar a peça que encerrará a Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC), estiveram presentes o encenador, Alexandre Lemos, o director do Teatro, Fernando Matos Oliveira, e o cientista e professor da UC, Carlos Fiolhais. Estiveram ainda presentes o Director Artístico da Marionet, Mário Montenegro, e o elenco da peça.
A conversa começou com a apresentação da peça pelo encenador, contextualizando-a na história da Marionet e no seu percurso de criação de diálogos entre arte, ciência e tecnologia. “Neste caso a arte e a ciência dialogam sobre nanotecnologia. O que fizemos nos últimos meses foi uma viagem ao presente da investigação a essa escala, no fundo fomos conhecer o estado da arte da nanotecnologia, com uma série de visitas e conversas com convidados mais e menos distantes da actualidade tecnológica da nano-escala.”. Alexandre Lemos destacou a propósito das peças da companhia, “a capacidade de comunicar as ideias de ciência pretende impulsionar e convidar o público a participar em cada novo conceito abordado” referindo-se depois à peça que encenou como um convite “a visitar o que nós próprios visitamos, nos últimos meses”.
O professor catedrático do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, Carlos Fiolhais também esteve presente na conversa, ele que foi um dos convidados que a equipa visitou na construção da peça e que é uma presença regular nos trabalhos da Marionet desde que a companhia criou pela primeira vez uma peça em diálogo com a ciência, no caso A Revolução dos Corpos Celestes, em 2001. O cientista falou inevitavelmente da sua área de saber e destacou o facto desta não se encontrar em crise “ a ciência é a curiosidade humana e dificilmente se apaga, tal como a arte.” Quando questionado sobre nanotecnologia, Carlos Fiolhais salientou que e é uma palavra que está a entrar nas nossas vidas, “uma palavra que já aparece nos títulos dos jornais e que há uns anos não se usava. NANO que é um prefixo vem do grego e significa anão e é uma medida do muito pequeno.”
Durante a conversa recuperou-se uma das perguntas mais vezes feita durante o processo de criação: qual foi a coisa mais pequena que já viste? O mesmo Carlos Fiolhais respondeu que já viu coisas da ordem do nanometro, explicando o que significa ver neste contexto “hoje há instrumentos que são elementos em avanço em relação à vista e a vista, por sua vez, encontra-se em avanço em relação ao cérebro. O nosso cérebro fica maior quando o nosso olho fica maior e assim vemos mais, sabemos mais, somos mais capazes.”
O director do TAGV, co-produtor da peça teve oportunidade de contextualizar o trabalho da Marionet e as suas expectativas para esta nova estreia: “é interessante o modo como trazem para cena, para o espaço público, um exercício de comunicação através de divulgação científica, mas também questionar o alcance ético e científico desta pesquisa de campo que consegue estabelecer um diálogo entre as áreas que não é redutor (…) não me canso de dizer isto, não há muitos exemplos assim em Portugal, nem na Europa”.
Em vésperas da estreia desta peça, parece-nos pertinente destacar as palavras de Carlos Fiolhais sobre a função deste trabalho: “o teatro consegue fazer chegar a ciência ao público e transforma-lo. Pensa-se que a imaginação não tem papel na ciência, mas o motor do conhecimento é a imaginação”.