Cálculo – peça em dois actos
Cálculo – peça em dois actos
Carl Djerassi
Mário Montenegro
O público parece ter a ideia de que apenas a ciência contemporânea é movida pela competição pelo primeiro lugar – uma espécie de Olimpíadas apenas com uma medalha de ouro. De facto, este ímpeto para ser o primeiro é simultaneamente alimento e veneno para os cientistas e foi sempre fundamental para o funcionamento da sua cultura tribal. Através da figura de um dos maiores cientistas de todos os tempos, Isaac Newton, “Cálculo” mostra que os desvios resultantes de semelhante ambição eram tão pronunciados há 300 anos como o são agora. A contenda de 30 anos entre os maiores filósofos naturais de Inglaterra e da Alemanha, Isaac Newton e Gottfried Leibniz, sobre quem primeiro inventara o cálculo (equações diferenciais e integrais) é particularmente relevante por ter sido conduzida pelos seus seguidores. A manipulação de um comité anónimo de onze membros da Royal Society pelo seu presidente, Newton, é praticamente desconhecida e é ilustrada em “Cálculo” através de três desses seguidores de Newton: John Arbuthnot (médico da rainha Anne), o conhecido matemático e imigrante francês Abraham de Moivre, e Louis Frederic Bonet, embaixador em Londres do rei da Prússia. Em última análise a peça responde à questão: “O que é que a integridade moral tem a ver com cálculo integral?” Numa palavra: “Muito.”
Disponível
2011
978-989-26-0123-6
Peça de Teatro
Imprensa da Universidade de Coimbra
Carl Djerassi
Nascido em Viena, em 1923, filho de Samuel Djerassi e Alice Friedmann, viveu nessa cidade e mais tarde em Sofia, na Bulgária, até à ascensão do regime Nazi e o eclodir da Segunda Guerra Mundial forçarem Carl Djerassi e a mãe a fugir para os Estados Unidos em 1939.
Formou-se aos 18 anos pelo Kenyon College onde, nas suas palavras, “se tornou químico”. Tirou o Ph.D. em química em 1945 no Wisconsin e subsequentemente trabalhou no CIBA, onde desenvolveu um dos primeiros anti-histamínicos de uso comercial (Pyribenzamina). Em 1949 torna-se director de investigação associado na Syntex, na cidade do México. A pesquisa sobre esteróides que ali fez levou à síntese da norethisterona e à primeira pílula contraceptiva, estudos que mudaram profundamente a ciência e a sociedade desde então.
Em 1952, Djerassi juntou-se à faculdade da Wayne State University e em 1959 de Stanford enquanto desempenhava funções como presidente da Syntex Research. Em 1968 funda a Zoecon, uma companhia virada para o controlo de pragas de insectos através do uso de hormonas.
Djerassi publicou mais de 1200 textos científicos, desde contribuições seminais para ferramentas de elucidação estrutural, incluindo espectrometria de massa, dicroísmo circular magnético e dispersão óptica rotatória. Também foi pioneiro nas suas contribuições para a compreensão da biosíntese de produtos marinhos naturais. Com Joshua Lederberg, Laureado com o Prémio Nobel, e o cientísta computacional Edward Feigenbaum, criou o programa de computador DENDRAL, uma das primeiras utilizações de inteligência artificial para elucidação estrutural.
Além de um inspirador educador e mentor, foi um importante defensor das mulheres na ciência. Foi reconhecido com numerosos prémios incluindo a National Medal of Science (1973), a National Medal of Technology (1991) e a Priestly Medal (1992) – a mais alta honra da American Chemical Society. Foi empossado no National Inventors Hall of Fame (1978). Entre outras formas de reconhecimento, recordava carinhosamente o selo postal emitido pelos Correios Austríacos em sua honra em 2005.
Foi membro da National Academy of Sciences, do The Institute of Medicine, da American Academy of Arts and Sciences assim como da Royal Society (de Londres), da Academia Real de Ciência da Suécia, da Academia Real de Ciências da Engenharia da Suécia, da Academia Europeae, e das Academias de Ciências Alemã (Leopoldina), Mexicana, Búlgara e Brasileira. Recebeu 32 doutoramentos honorários.
Nos anos 80, abandona a carreira científica para se dedicar à escrita, poesia e dramaturgia. Publica inicialmente contos, poemas e “science-in-fiction”, focando-se no lado humano dos cientistas e nos conflitos pessoais que enfrentam na sua busca por conhecimento, reconhecimento e recompensas financeiras. Tem publicados inúmeros poemas, contos, romances, autobiografias, colecções de ensaios e de poesia, e um livro de memórias. A partir de 1997 a sua produção é focada na dramaturgia, inicialmente no género “science-in-theatre”, incluindo peças como “Calculus”, “Oxygen”, “Phallacy”, “Taboos”, “Ego”, “Three on a Couch”, “Insufficiency” e “Foreplay”, todas elas produzidas em vários países (nomeadamente as produções da Marionet de “Cálculo” e de “Ego”).
A morte da sua filha Pamela, poeta e artista, em 1978 inspirou-o a criar a The Djerassi Artists Residency Program. Foi um patrono das artes e doou a sua vasta colecção de obras de Paul Klee ao San Francisco Museum of Modern Art e à Albertina, em Viena.
Carl Djerassi, professor emérito de química, romancista, dramaturgo, patrono das artes e pioneiro da produção da pílula contraceptiva, morreu na sua casa de São Francisco a 30 de Janeiro de 2015, aos 91 anos de idade.
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